Thursday, March 26, 2009

sem escolha



Eu estive muito tempo sem trabalhar. Aliás, sem ter um emprego, porque o último ano e meio foram, sem sombra de dúvida, os meses mais ocupados da minha vida, tanto que voltar a o trabalho quase que sabe a férias. Quando acabei o doc, achei que seria relativamente rápido (questão de 2 ou 3 meses) encontrar o que queria. Não foi assim tão simples, e a coisa arrastou-se por mais um ano. E apesar de toda a espera não ter sido uma escolha, tive no fundo o luxo de poder esperar por aquilo que queria, pela oportunidade certa, e, sem pressas, insistir e perseguir o projecto que desejava para avançar na minha carreira. Demorou mas cheguei lá, e apesar de tudo, pelo menos por agora, sinto que valeu a pena. E se isto tudo foi difícil e às vezes desesperante, mesmo quando eu tinha opções e conforto financeiro, não é difícil imaginar o que é estar sem emprego contra a nossa vontade, natureza, capacidade e orgulho. Porque não temos escolha. E ainda pior quando não existe o luxo de esperar pelo que nos satisfaz, pelo que nos interessa, pelo que gostamos, por algo que se encaixe às nossas capacidades tanto quanto aos sonhos. É nessa situação que está o Nick. Sem escolha e sem luxos, sem tempo para esperar, porque tem uma família que precisa dele. E sem opções, porque de facto simplesmente não há empregos que cheguem para toda a gente! Pelo menos empregos que paguem o mínimo essencial para por os filhos na creche… ou seja, qualquer emprego que pague um pouco mais que o meu, já que o meu ordenado inteiro não chega para pagar tal despesa. Nao é um absurdo? Mas tudo se relativiza. Sabemos bem que ha famílias em situações bem mais desesperadas que a nossa, que enquanto houver pelo menos um ordenado, tudo se pode adaptar a essa escala, e quando há menos, olha, vive-se mais pequeno. Nao é esse o meu dilema. O que me custa é sabê-lo infeliz, insatisfeito e frustrado. Por uma razão que me ultrapassa, eu sinto que ele tem vergonha de estar desempregado. Apesar de racionalmente saber que não teve qualquer responsabilidade no infeliz desfecho para o que pareceu sempre uma promissora progressão na carreira, irracionalmente sente culpa. E ainda não consegui contornar essa tendência. A marca que lhe está no orgulho e na autoestima não irá desaparecer tão cedo… e agora para ajudar às inerentes limitações do desemprego, temos uma limitação geográfica. Estudamos até à exaustão as nossas hipóteses, e a eventualidade de surgir uma oportunidade de emprego longe daqui. Como seria? Sobreviveriamos? Provavelmente, mas tambem muito provavelmente à custa do meu posdoc. Se não estivermos juntos e igualmente disponíveis, como vai ser com os gémeos? Quem os vai levar a buscar à escola? E quando eu tiver que saír tarde? E quando algum deles estiver doente? E se ficar sem carro ou presa no trânsito? Se só há uma pessoa, não há como fazer turnos ou cedências ou acordos. Em menos de um fósforo eu teria que fazer as malas, desistir e começar tudo de novo. Não está fora de questão, mas é uma opção que preferimos adiar para já. Ou seja, para além de tudo, agora está… preso. A mim.


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