Wednesday, June 17, 2009

Regresso a casa

Quem haveria de dizer que voar sobre o Atlântico em direcção ao Oeste me saberia a alívio? Pois é. A nossa viagem foi mais stressante do que inicialmente esperámos. Estávamos preparados para os intermináveis voos, para a confusão dos aeroportos, para crianças impacientes e cansadas. Mas pensámos que o conforto da família se viesse a sobrepôr. Não foi bem o caso… Esta família tem mais que se lhe diga do que o que transparece à primeira vista, e a relativa frieza com que fomos recebidos e acomodados deixou-nos um pouco atordoados. Tivemos alguns bons momentos, mas a maior parte do tempo estivemos como peixes fora de água, a tentar entreter gémeos com 22 meses num ambiente em que tudo era limpo, cristalino, branco, vidrado e caro. Rodeados por pessoas que não têm filhos, e além disso ricas. Bastante ricas. Ou seja, que nada têm a ver connosco. Os gémeos portaram-se que nem uns valentes. Verdade que a viagem daqui para a Alemanha foi um verdadeiro pesadelo, já que contávamos que a exaustão os pusesse a dormir ao menos no segundo voo… mas rapidamente percebemos que a excitação foi mais forte. O Lucas simplesmente não dormiu nada. O Thomas dormiu pouquíssimo. Fomos com toda a certeza os passageiros mais impopulares! Já no regresso as coisas correram bem melhor, talvez porque eles eventualmente perceberam que não havia como escapar daquela lata e conformaram-se um pouco mais em andar para trás e para a frente nos corredores, a pedir bolachinhas, aperitivos e sumo (“mumu”) à tripulação, entretenimento alternado com algumas pequenas sestas por que estamos (os pais) imensamente gratos! Mas ao mais importante: o casamento não desiludiu no sentido em que foi, de facto, uma cerimónia muito especial e sofisticada. Tudo comecou com a entrada a bordo de um barco que nos levou a passear pelo Lago Wörthersee e onde se consumou o contrato civil. Ao fim de umas três horas de passeio, com direito a show aéreo e tudo (o irmao da Claudia, Christian, é piloto), descemos do barco e atravessamos a rua para o Hotel Schloss Leonstain onde se seguiu uma pequena benção, em Inglês e em Alemão, para que nenhum dos presentes se perdesse no significado. Fotografias (só dos noivos e padrinhos) e jantar… nouvelle cuisine (Wikipedia: Cuisine nouvelle ou nouvelle cuisine, desenvolvida na década de 1970 em reação à cozinha tradicional. Teve a influência de chefes como Paul Bocuse. Caracteriza-se por ser elaborada em pouco tempo, com molhos mais leves e menores porções, apresentadas em forma refinada e decorativa). Ou seja, não havia assim lá muito que comer, foi mais para ver... o que, para quem se casa/casou em Portugal é um verdadeiro absurdo. Não houve música… nem uma valsa vienesa?! Ficamos chocados. E não fora eu e mais os poucos convidados espanhóis (da Cataluña) não teria havido muito quem dançasse. Acabamos por ir para o bar do hotel e juntar-nos aos restantes turistas. Os noivos não estavam particularmente interessados, e a maior parte dos convidados mais velhos foi-se embora ainda antes da meia-noie. Achei isto estranhíssimo… mas enfim. Klagenfurt, capital da província de Carinthia, é lindissimo, mas por qualquer razão, a passagem por Ratingen foi mais agradável para mim. Porque me soube a Europa e não a estância de férias, porque é uma cidade calma, limpa, acolhedora, verde… quase idílica. A vida parece que anda mais devagar, mas há barulho, movimento, cafés, pessoas, lojas, praças, mercados.... Em Klagenfurt, a vida praticamente pára, e provavelmente é esse excesso de paz que me aborrece… que é que eu hei-de fazer? Parece que não fui feita para estar de férias. O contexto não foi o melhor, e a logística foi complicada, estivemos quase sempre sem carro, por causa dos compromissos sociais associados ao evento, e que nos impediram de explorar melhor as redondezas. O Nick esteve quase sempre em casa, eu só saí uma vez, para comprar uns sapatos para o casamento, pelo que o que vimos foi pouquíssimo. No último dia visitamos por breves momentos uma torre de observação com uma vista panoramica previligiada... e foi o nosso melhor postal. Pus algumas fotos no flickr. Estou feliz por estar de volta. E confesso que nunca pensei que viesse a dizer isto de um regresso à California, onde, como todos sabemos, eu nunca hei-de pertencer, mas é muito estranho quando a nossa família nos faz sentir como se fossemos visitas… acho que foi a primeira e a última vez que visitei os Price sem uma passagem pelos Mendes e Brancos!